domingo, 30 de dezembro de 2012

Versos Acordados

O acordo era dormir até mais tarde ou até o sol raiar
Tem horas que nem sei quem sou
Queria ter tempo de sentir depois de dores mais cor
Escrevo apenas sobre as mazelas do amor
Há quem julgue ser doce, leve, uma flor
Outros afirmam ser comum e um tanto infantil
Confesso, não estou aqui para agradar a mil
Mas faço sempre o uso desse mesmo fio
Para acompanhar a solidão que um dia se fez silêncio.
Acordei cedo e, sobre o (des)acordo, agora penso:
Minhas noites nunca precisaram de tanto lenço
Noites de lua cheia com brilho intenso
Ofuscam meus olhos que insistem em penar.
Sou diferente dessa gente que finge ser o que não sente
Mas me assemelho logo ali na frente
Quando saio dos meus sonhos e desaprendo a voar.
Na madrugada agora entendo, não somos donos do querer
Queria ser um bem-te-vi que canta dando vida lá no alto
Grito que dá asas ao coração e ameniza o que é triste fato.
Mas meu único alívio, agora, é o sono se aproximando
Daqui a poucas horas vou levantando
Lembrando-me dos versos acordados
Que me dão ar e escrevo de vez em quando.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Tic-tac

Enquanto uma folha se recusa a cair
A serpente do medo cresce, rodeia...
E a criança quer apenas sorrir e brincar...
Mal sabe ela que o tic-tac não pode parar.
Fechando os olhos pode-se sentir
Horas correm, horas engatinham...
Nada mais que sonho, mera impressão.
Mesmo não dando corda, relógio quebrado...
O tempo e seus caprichos não silenciam
Às vezes gritam, ensurdecem a alma
Às vezes cantam no mesmo tom.
Não se pode correr contra o tempo
O fácil também pode ser perigoso
Mas aquela criança ainda pode sorrir
Todo dia é dia de espetáculo
Há sempre um sol brilhando em algum lugar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Nada Não


“Nada não” é tudo o que eu posso dizer diante do que sinto, diante do que faço e diante do que eu não sei... Não sei explicar. Meus sentimentos se misturam e confundem minha cabeça, meus pensamentos se encaracolam bem mais que os meus próprios cachos.
De repente sinto o coração bater forte, um arrepio que vai da ponta do dedo ao ultimo fio de cabelo. Olhar pra cima já não me faz tão bem, a angustia invade meu peito. Não tenho mais aquela companhia que me ensinou a contemplar o céu, está tão longe quanto as estrelas e eu tão solitária quanto a lua, mesmo cercada de pessoas.
Alguém bem próximo a mim diz também sentir falta, mas não como eu porque eu nada tenho a dizer, nada consigo fazer. Mas, uma coisa é certa, EU SINTO. Ninguém me entende, ninguém entende meu silêncio. “Nada não” é o máximo que eu posso dizer agora, enquanto procuro papel e lápis para eu mesma conseguir me entender.
A verdade é que mulher é um bicho esquisito e querendo ser menina me atrevo a ser mais ainda, ser aquilo que nem sei que sou. Choro, grito, brigo, esperneio, faço isso durante o ano inteiro, entre 3 e 6 dias no mês e ainda tenho que aguentar a dor, sentimentos a flor da pele... Nessas horas me revolto e preferia de verdade era fazer xixi em pé, caminhar pela cidade, respirar fundo até mais tarde sem me preocupar com o que vou sentir no mês seguinte.
Mas logo paro e penso melhor, é essa tal sensibilidade que nos torna diferente, que me faz ver o mundo com um olhar mais doce. Sensível e sonhadora sou, mas agora alguém torna a perguntar: “o que está se passando nesse teu mundinho?”, reconhecendo minha confusão com as palavras e sabendo que são raros os que me compreendem, respondo apenas “nada não”.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Meus olhos sentem

Ao longe era bonito
Ver todas aquelas asas,
Três pares voando
Agora bem perto de mim.
Do lado oposto aqueles sóis,
Eclipse que não tinha lua.
Luz intensa ofuscou meus olhos
E na tentativa de fuga
Fechando-os, acordei.
Meus olhos pareciam não estar comigo
Estavam lá, clareando o céu.
Agora são luas escondidas entre nuvens
Quando parecem não se mostrar
Surgem enormes querendo sorrir,
Avistando a visita da chuva....
Não adianta fechar e abrir os olhos,
Não é sonho, não adianta tentar acordar,
Aquela sensação agora vem de dentro
Estranho, antes que a chuva caia
E qualquer palavra seja dita
O nada e o medo começam a chorar.

Dez

Olho minhas mãos,
Cada dedo uma história pra contar
Antes deles, vejo o colorido
Que em meu pulso faz circular...
Lembro-me das primeiras prosas
Todo dia
Dia todo
Quase sem parar.
E uma chuva de janeiro
Veio, logo, anunciar
Quanto mais próximos
Maior a vontade de ir além,
Deixar o sol entrar...

sábado, 24 de novembro de 2012

Abraço


Numa noite enluarada, aparentemente tranquila, de onde se ouvia apenas o barulho dos carros, alguém pede um abraço.
Desconheço.
Surpresa, desconfiança, medo...
O que fazer agora?
Abraçar o desconhecido que me olha com afeto e timidez?
Fingir não ser comigo e passar direto, mesmo sabendo que somos os únicos pedestres na avenida?
Os poucos segundo a nos distanciar foram suficientes para várias indagações.
Parei e demonstrei não entender a situação.
O jovem não muito alto, pálido e de cabelos sobre os olhos disse novamente:
- Você me daria um abraço?
Enfrentei meu egoísmo/medo e sorri.
Qualquer um e a qualquer hora pode precisar de um abraço.
Por que não?
Abracei-o fortemente, como poucas vezes havia feito.
Ele, na sua inocência, agradeceu e pediu para me acompanhar.
Ainda amedrontada, recusei a companhia do gentil rapaz e disse, logo, que estava com pressa.
Ele sorriu e disse-me:
- Esse abraço era o que eu precisava. Muito obrigado, moça bonita.
Virou as costas, seguiu.
Enquanto, eu, sem saber o que dizer, saí leve e com um sorriso no canto da boca.
Aquele gesto tão singelo, que me provocou medo, fez valer meu dia que já estava no fim.

Sol de Israely


O sol que arde, queima a pele, e me bronzeia...
É o mesmo sol que acende o dia, o céu de luz incendeia,
Que ajuda a foto, a síntese, e a vida eterniza...
O sol que arde e desmancha a maquiagem,
é o mesmo que te mostra em verdade, oh menina 
das sardas de ouro,
Menina solar, irradiada, parte de meu tesouro..
de roubo, assalto, em raios ofuscantes eu roubo as palavras,
do poeta, divino, ser que um dia me disse:
que a vida é amiga da arte, a parte que o sol me ensinou...
E o sol, é o sol que te regogiza e eterniza, pra sempre no meu peito,
faísca de alegria e sorriso meu...


(Wagner Medeiros)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Aparências


Se não diz
Não sente.
Se não sorri
Não é feliz.
Se não chora
Não sofre.
Se não escreve
Não lê.
Se não olha
Não sabe.
Se não escuta
Não dança.
Se não...

Até quando vamos viver de aparências? Fazer ou deixar de fazer algo por medo do que os outros possam dizer/pensar? Quem sabe o que se passa dentro de mim?
Ah, talvez meu travesseiro, meu lençol, minha janela, meu banheiro...Eles nunca disseram o que eu tinha que fazer!

domingo, 11 de novembro de 2012

O que te sustenta?


O melhor de não dormir a noite é poder despertar ao primeiro som dos pássaros, junto com o nascer do sol.
Esqueço o cansaço, abro os olhos e vejo o colorir do astro rei acima de mim.
Mas a canção dos pássaros me faz querer fechar os olhos e sentir o vento que acompanha àquelas notas, em perfeita sintonia.
O amor dentro de mim parece querer dançar, não mais tenho sono, quero ser feliz, quero voar.
Felicidade é como borboleta, não adianta tentar pegá-la porque ela pode ir pra longe.
Borboleta se aproxima quando menos se espera e ser surpreendido é bem mais que um voo.
Tenho coração alado mas ainda não sei voar, vou dormir um pouco para talvez poder sonhar.
Sonho possuir asas, mas o chão é o que me sustenta.
Sonho poder acordar e, na leveza de uma nuvem, sentir o chão.
Sonho(e), acorde! Resista!

domingo, 4 de novembro de 2012

Son(h)o

Olhando despretensiosamente o céu
Da janela dos meus olhos
Vi duas imagens nítidas
Daquelas que trazem saudade.
Nuvens dançando desenharam
Uma criança e um ancião
De mãos dadas, bem felizes
Pareciam sorrir, o que não pude ver.
Um sorriso espontâneo
Daqueles que se dá depois de uma ciranda
Mas uma tempestade logo veio
E o que era claro tornou-se escuridão.
Ao longe, ouvi o assobiar do vento
Aquela canção de ninar o fez dormir
E chorando só posso dizer:
- Dorme em paz, até o sol raiar!

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ainda não é aquela cor (azul)


E quando finalmente podia voar
Não conseguiu tirar os pés do chão
Sentiu que somente asas não eram o suficiente
Asas não saem do chão sem o devido impulso.
Ninguém é inocente até que se prove o contrário
Duvido até da minha (não) culpa escondida no arco-íris
Por que acreditar nas tuas cores
Que há muito nada dizem?
O pulso até que sinto naquela canção
Ouço o batuque, mas letra não tem.
Quero esquecer de mim mesma
E além de uma nuvem me encontrar
Mas da memória controle também não tenho
Há um grito preso numa lágrima
E nem tão cedo a chuva vem.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O coração aos olhos de uma menina

Meu coração não é pedra
Mas guarda pedaços de rocha
Que machucam e parecem nunca acabar
Às vezes pesam, parecem maiores
E quando pequenas,
Rolam até o estremecer do mar.

As águas acompanhadas do vento
Dançam para lá e para cá
Por mais que o tempo passe ligeiro
Essas ondas ainda me fazem chorar.

O céu se abriu e sorriu pra mim
Pude ver o azul e as nuvens brancas
Contrastando com a seca do ocaso
Que me deixou ver o colorido do fim
Alimentado pelas lágrimas de sol.

Verde e amarelo se confundem
Com os olhos do homem paciência
Sereno/calado beijava-me a face
Ensinou-me como faz bem olhar o céu
E quando podia me chamava de menina (danada).



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Como pode um cheiro tanta lembrança trazer


Cheiro de terra molhada
Trouxe na lembrança a criança
Mal sentia o balançar forte das folhas
Corria ligeiro porta afora
Aos pulos e sorrisos
Avistava logo um poço
E lá se lambuzava
A mãe quando via, logo gritava:
- Menina, sai daí
Anda logo se enxugar
Antes que fique doente
E teu pai já disse hoje
Remédio não vai comprar.
Esse mês a colheita foi pouca
Quase não dá pra nós comer
A danada dessa chuva
Resolveu aparecer só agora.
Entre e se apronte pra jantar
Daqui a pouco Antonio chega
Cansado, vai guardar a enxada
E depois de comer vai contar
A história de Camões
Que com seu avô aprendeu.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Quimera

Da aquarela mais linda, a cor
Do céu mais limpo, anil
Das nuvens mais doces, algodão
Do voo mais leve, asas
Do clima perfeito, calor
Da estação mais bela, flor
Do brilho mais intenso, sol
Do dia mais feliz, criança
Do sentimento mais puro, amor
Do lugar fantástico, quimera

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sonhos que ainda me assustam

Sonhei com um sol gigante,
Corria o céu como cometa,
Fugia de um dragão vermelho...
E eu fingindo ser heroína
Tentando cantar ao som do vento
Procurava o que é azul,
O que às vezes me falta.
Então, alguém me disse:
- É água!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Outubro


E agora
Quase a nascer
Sinto leve, vento, brisa
Às vezes chuva, tempestade...
Invade o (meu) sonho, pensamento
Vai ao longe, onde se diz fim
Talvez seja só o começo.
Do ângulo em que se vê
Pode até ser infinito.
Então, que seja...
Agora!


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Um Tal (de) Castelo


Ela viu borboletas num dia azul
Cores combinadamente incomuns
Leves asas rosa-laranjas sobre o negro
Três vezes voam de um ponto a outro
Um reflexo traz a poesia do lado esquerdo
Brilham os olhos quase a chorar
Lembranças de um grande castelo
Que colorido com suas flores
Mostrara o belo, o certo
E a força que há dentro de cada um.
Lá ela não pode mais voltar
O passado só se revive na memória
O grande dia está chegando
Grande será a ausência do abraço
Aquele que a ensinou e fez forte
E como as borboletas, voa leve
Mesmo não podendo tocar/ver
O castelo não sairá de dentro dela
Lágrimas poderão tornar-se doces
E o vazio...  Alimentará.

domingo, 16 de setembro de 2012

Um arco-íris preto e branco

O oráculo me disse há alguns dias

Que tenho dois caminhos a seguir

Entre sorrisos e lágrimas

Devo escolher o amor

Aquele feito sob medida

Que colore os meus olhos


Mas circunstâncias

Me impedem de pintar

Não enxergo com clareza

As cores do céu em tela


Vejo apenas os tons de cinza

Que nos dia de muita chuva

Escondem a luz do sol

Então, pergunto-me

De que adiante a cor

Se nada dela ainda sei dizer?


Dúvida e medo agora me consomem

Não que eu não saiba o que sinto

Na verdade são sentimentos

Que ainda não aprendi a lidar.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Primavera




Que a primavera venha depressa
Com sua aquarela de flores pinte
O escuro do que ainda há de vir
O cinza da saudade do passado
Misture o branco dos amores
Às cores de sonho e realidade
Para que os dias sejam suaves
Que a leveza una os corações
A estação torne os dias belos
Assim como aquele ipê amarelo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Cálice

Tentar se concentrar é desconsertar-se

Aquela melancólica canção não para de tocar

Chuva ainda insiste em cair dos olhos

Trovões assustam, enquanto a lua perde o brilho

Até os olhos vermelhos do semáforo parecem chorar

O tambor continua a forte bater, involuntário no peito

Não sabe o que dizer, sinta-se

Se palavras são erros, cale-se

Só pra ter certeza, permita-se

Do vinho do silêncio, embriague-se

Do que ainda não se viveu

sábado, 25 de agosto de 2012

Voo


A menina passarinho parecia sempre estar feliz,
De lábios vermelhos e sorriso estampado na face.
Quase não percebia ( ou não queria) o mal ao redor,
Só queria estar ao lado de seu João de Barro
Que a fazia voar quando tudo parecia pesado
E encontrar a terra firme quando de solo precisasse.

Olhava nos olhos dele e sabia que ali era o seu lugar,
Lá via a poesia e o encaixe perfeito de seus radiantes olhos.
Quando juntos estavam, de mãos entrelaçadas,
Sentiam o pulsar dos corações sem ao menos tocá-los.
Era como se estivessem nas nuvens, vendo de perto o ocaso
Mas, às vezes, o tempo parece correr contra nós.
No instante em que tudo nos dá, pode tudo tirar.


Distraída nas suas emoções, ela não percebeu,
Mas o tempo passou e quis carregar sua meninice.
Ela bem tentou resistir, mas a astucia dele é tamanha,
Pedaços levou do quebra cabeça de seu mundo fantástico.

Obrigada a crescer, pôs os pés no chão e deu um passo por vez.
Apesar da leveza, sozinha, não era tão fácil caminhar.
Na estrada continha pedras/espinhos, além de tropeços,
Sua única companhia era o assobio do vento
Em forma de canção, dizia para não deixar de acreditar,
Quando se tem sonhos bons é possível, ainda, voar.



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Paradoxo de um reflexo


Sob o céu azul, conversas filosóficas.
Jovens sábios discutem “felicidade”
Ou seriam sábios jovens, talvez.
O que não faz sentido pode ser sentido.

Vejo um palhaço colorido nos meus sonhos.
Cores vibrantes alegram meu ser, sorrio.
Olhos tristes do que é real me fazem chorar
O que não faz sentido pode ser sentido.

De um lado uma pilha de livros novos
Do oposto uma pilha de louças sujas
Esperam-me, a coragem de matar a fome.
Fome de sonhos, fome de realidade.

O lúdico enche os olhos, girassóis.
O real entristece a alma, passarinho.
Alguém agora bate (n)a porta
O equilíbrio devo encontrar.

Abrir, fechar, calar, falar...
Ainda não me veio a resposta
O que não faz sentido pode ser sentido
E, assim, segue o paradoxo da vida.

sábado, 18 de agosto de 2012

Poesia dos olhos teus



Enquanto penso numa desculpa pra ficar
A noite insiste em não esperar por mim
Como criança desobediente, mas doce,
Não consigo controlar minhas vontades.

Cantarolo repetidas vezes aquela canção
Que há dias faz morada em meu peito.
Deixo a chuva cair sem cessar
E espalhar o sal pela minha face.

Vejo a poesia transbordar (nos) dos teus olhos.
Percebo que os fecha por preferir a poesia cega
Mas, ainda que de olhos fechados, posso sentir/ver,
Bem como o vento que levemente bate no meu rosto.

Quero ver aqueles olhos brilharem novamente
Junto com as cores resplandecentes do ocaso
Que ainda vão e vêm  na minha memória
Como passarinho perdido, à procura do bando.

sábado, 14 de julho de 2012

Sem Título




Portas abrem e fecham sem parar. Pessoas veem e vão. Lágrimas brotam de alguns olhos. Alguém fala, outro cala, mas lá não consigo ficar. Alguns recorrem a Deus, outros dizem FORÇA, todos querem saber e de alguma forma ajudar. Mas muito pouco pode ser feito, só nos resta acreditar e nesse lugar não mais voltar.

Depois de calafrios e falta de ar, quero apenas ficar na janela sozinha ou um abraço apertado e silencioso. O céu mais azul acompanhado das nuvens brancas parece mais próximo de mim como quem quer fazer companhia e/ou dizer algo. Lá não vejo sinal de chuva, mas, ao mesmo tempo, ela insiste em cair das nuvens mais doces, que agora não mais têm gosto de açúcar tampouco de sal.

Hoje quero apenas continuar vendo as borboletas, mas o rumo que suas asas tomam independe da minha vontade. Enquanto as nuvens se abraçam, as borboletas voam para bem longe. Mas sei que, quando eu quiser vê-las, só preciso fechar os olhos e senti-las, assim como quem vê o sorriso de um velho camponês.

domingo, 1 de julho de 2012

Alis volat propriis



Ela possuía asas, mas ainda não sabia voar.
Olhava o céu e pensava: Ah, se eu pudesse...
Tentava e, sem nenhum sucesso, chorava.
Onde se escondia a leveza de seu coração?

Percebeu o motivo de não tirar os pés do chão,
Um sentir que não se pode ver,
Um peso a mais carregado pelas costas,
Seu coração estava preso ao medo.

Conhecia anjos, borboletas, até bolhas de sabão.
Sabia proteger com um abraço,
Sentia o vento soprar a seu favor,
E via a energia de todas as tuas cores.

Vivia das vibrações emanadas pelo sol e pela lua.
Talvez não fosse a leveza que a tiraria do chão,
Mas a força que nem ela mesma sabia ter.

Apenas silencio, palavras, sorrisos
Foram o bastante para a janela ser aberta
Para num arrepio sentir o que é tocar as nuvens.

sábado, 23 de junho de 2012

Helianthus annuus



Hoje contemplei o céu durante muito tempo, mas não como costumo fazer. Estava lindo, porem, esperava que estivesse mais cheio de graça, parecia até ter algo não tão bom pra me dizer. Entre as nuvens, encontrei um castelo e imaginei ser ali o meu lugar. Como uma rainha, tão majestosa quanto um girassol, ordenei que meu reino ficasse mais belo, em vão. Voltei à realidade e tentei me convencer de que tudo estava bem, sorri.

Mais tarde, quando não mais me lembrava desse ocorrido, reflexões me fizeram sentir o tempo fechar dentro de mim e junto de outros sons e vozes, ouvi a canção melancólica da chuva. E lá fora, o tempo me imitava, ou o contrário ou talvez sejamos um só... O universo é bem maior e mais forte que eu, mas dele faço parte. Não sei onde é o meu lugar, não sei o que sou, mas tenho certeza de que não é aqui e que não sou isso ou aquilo.

E se eu tiver de ser algo, quero ser um girassol, pois sua única preocupação é seguir, com seus olhos/pétalas, os caminhos percorridos pelo sol do nascente ao poente.  Talvez por traz disso tenha uma bela e trágica história de amor entre um deus e uma ninfa, como na mitologia grega. Mas torno a pensar/dizer que nada sei porém, aos olhos do meu coração, é inevitável, em todo seu esplendor, não se encantar pelos raios do sol.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Seja assim, mas seja breve


Ela olha o céu e vê que está lindo, mas não como deveria ser, não como da última vez que sentiu arrepiar(-se) o corpo todo ao olhá-lo atentamente. Aqueles azuis em degrade, a seus olhos, pareciam um tanto tristes e começou a olhar para si e a perguntar: onde estão as tuas cores de alegria?

Fecha os olhos na tentativa de ver borboletas, mas nada encontra, talvez por medo elas tenham se escondido em seus casulos. Procura seus pincéis na mochila ainda suja de outros verões e encontra apenas uma borracha, mas não sabe usá-la, talvez ainda não precise.

Olha o céu novamente e sente que as nuvens têm dúvidas quanto a sua forma. O vento que sopra parece seguir a direção oposta à sua vontade e segue desmanchando assim todos os corações que sua imaginação poderia enxergar.

O tempo fecha e começa uma tempestade que muito a amedronta, mas no fundo ela sabe que o melhor é chover até a última lágrima, pois fortalecerá a correnteza dos rios de sua vida e, logo mais, o sol retornará com seus raios pra colorir seus dias. 

E então, que seja assim, mas que seja breve!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Retro + Visor


Homem, aquilo que está por vir,
Vontade de tentar e o medo de cair.
No retrovisor, aquilo que já foi visto,
Vontade de ficar e o medo de se frustrar.

Enquanto o automóvel corre ligeiro
Pensamentos insistem em se formar
Quando se dá conta, o sol já se pôs.

Pessoas, lugares e situações mudam.
Com nova roupagem, o sentimento continua.
Acordo... E quanto ao tempo, ele voa.




quarta-feira, 13 de junho de 2012

Além do que se vê



Depois de passar a noite do dia dos namorados trancada no seu pequeno e escuro quarto, lamentando-se e chorando por não ter ninguém pra trocar afetos, nessa data em que se comemora a união amorosa entre casais, Aline quase não consegue levantar a tempo de pegar o ônibus que leva à cidade vizinha onde trabalha.
Levantou-se da cama contra a vontade, na quinta vez que ouviu o tocar do despertador. Sem querer ver a luz do sol, não abriu a janela de seu quarto que, por ser pequeno, ainda estava escuro. Arrumou-se como todos os dias, mas dessa vez nem seu espelho enorme (por vaidade) quis ver, pois sabia que aquele reflexo não faria bem aos olhos. E sem tempo para preparar o café da manhã, saiu às pressas, batendo a porta.
Procurou atalhos pelas ruas já movimentadas e, ao chegar à avenida, o ônibus que costumava tomar já estava de partida. Sem muito pensar, correu e sinalizou para que o simpático motorista de olhos azuis a esperasse, enquanto os passageiros que lotavam o coletivo eram surpreendidos por uma freada repentina.  Alguns instantes se passam e entra no ônibus a bela moça de cabelos longos e negros que, mesmo de olhar triste, desperta a atenção de todos, em especial a do jovem de camisa social amarela que, também a caminho do trabalho, há pouco analisava alguns papéis, mas se perdeu em meio a tanta beleza que passava diante de seus olhos.
Sentou-se e, na tentativa de esquecer a noite passada, Aline fitou o céu distraída. E o rapaz, que já não conseguia voltar à leitura, olhava-a de modo apaixonado.  Era a primeira vez que se cruzavam e bem tentou disfarçar, mas não parava de observá-la, aquilo era mais forte que ele. Não sabia quem era e muito menos quando a encontraria novamente, mas queria registrar aquela imagem na memória... Sem se dar conta de que ela já estava em seu coração.
Quarenta e dois minutos de viagem e Aline chega a seu destino. Levanta, dirige-se à porta e desce do ônibus para dar início a mais uma jornada de trabalho. Enquanto isso, o jovem de camisa amarela segue seus passos com olhos vidrados e, ao sentir o coração bater forte sem nem mesmo tocá-lo, teve a certeza de que era ela a moça com quem trocaria afetos pelo resto dos seus dias, inclusive os dias 12 de junho, aquela data que a deixou tão triste a ponto de não poder enxergar os olhos do seu futuro.