terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A flor e o jardineiro



Cada pedaço de mim
É capaz de tornar-se pétala
Para que tuas mãos me (a)colham
E me levem ao lugar mais alto

À beira do precipício
Que não tem fim
Tampouco chão

Quero sentir a queda
Ir de encontro às pedras
Cruzar o azul infinito
E ainda assim
Contrários
Que tenhamos o vento a nosso favor

Às vezes somos amarrados
Pelos meados fios das horas
Ou dilacerados pela mesma linha

Um dia colorido pelo raiar do sol
Outro entristecido por tanta chuva
Do inverso também há

E lá se vão nossos quereres
Que em algum jardim se encontram
E tornam a exalar odor

A dor do espinho
Em tuas mãos calejadas
Nada mais revelam
Que um amor aveludado

Pois em meio à queda
Nos a(m)paramos um no outro
E o sentir-se junto
Já não era tão pesado
Metamorfoseou-se em vida
Trouxe a todos o sentido

Tu já não eras o mesmo homem
E eu deixei de ser uma simples flor

Aqui solidificamo-nos

domingo, 18 de janeiro de 2015

Memória

Eu,
Mãe de tantas musas -
Da comédia à poesia -
Sou tão volátil,
Uma breve lembrança
E um grave esquecimento;

A resposta bem escondida,
O movimento instigante
Sagrado às brumas do vento;

Sou voz
Soo voz
Não me calo em ti.

Amor é memória
E aqui findo-me
Qual dei a luz,
(para preservar...)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Ime(r)sidão

Quando a última lágrima de súbito torna-se mar
Aquele azul é sal, é pedra
É barco que se perde em meio a imensidão
Feito bússola quebrada
Não distingue norte de sul
Leste ou oeste parecem o mesmo destino
Fechar os olhos e sentir o vento não acalmam
Tampouco trazem uma solução às mãos
Um olhar de esperança
Um sorriso de gratidão
Fazem-se delírios tolos
Numa madrugada seca
Medrosamente escura
Cenário incerto pra chegar ao fim
Traz angústia à mente
Sem equipamento pra mergulho, somente voo
Submarina o coração.

Como se fosse apenas flores

As flores nascem, crescem, exalam odores, murcham 
E tudo é excessivamente raso aos nossos olhos
A metamorfose da flor pouco tem importância
Não lhe julgam pelo processo
Querem apenas os resultados
E de bom grado que se multipliquem aos mais elevados números
Um dígito não valeria a pena
Um rabisco é pouco pra tanta tinta
O cerco se fecha
O caminho estreita
O azul se distancia
É preciso fazer escolhas
Coragem, ousadia ou devo enfileirar-me a espera de um rótulo?
Eu desejaria ser um girassol
Se me permitissem ser além de nós
Mas de que vale um perfume barato
Se em um frasco eu não me trancar?