Uma hora dessas eu deveria estar lendo, relendo,
escrevendo, pensando e agindo como uma boa estudante que sou, ou deveria ser.
Mas, conjunção que sempre me atormenta, estou profundamente atordoada. Não sei
onde foi parar minha concentração, e o que dança em minha mente são as imagens
do sonho da noite passada. Fortes. Confusas. Significativas. E eu nem sei se
devo contar, poderia ser mais um desses filmes de “tela quente”, mas são
pesadelos reais.
As vezes penso que esses sonhos traduzem o que sinto. Ao
invés de uma noite mal dormida, ganhei de presente uma noite toda fazendo papel
de mocinha que, num misto de coragem e medo, faz o que pode e acha certo. Não
sei se esses sonhos querem me dizer algo, não se se é tudo fruto de meu
inconsciente ou se meu coração bateu um tantinho demais quando segurei o
pranto, não sei.
Sonhos recorrentes. Dessa vez aparentemente diferente,
mas com o mesmo significado de luta, que quase ninguém vê. Era eu quem tinha o
poder, era eu quem tinha as possibilidades, a astucia, vontade, a coragem. Mas
também era eu quem se sentia fraca, era eu quem estava perdida e com muito medo
no olhar.Dessa vez não tinha fogo, o que me queimava por dentro
era a angústia da água invadir. Havia gente que eu não sabia quem era. Todos
apavorados, inclusive eu. Subia, descia. Corria de um lado para o outro, com a
sensação de que salvar a mim mesma nada tinha de salvação. Passaria a vida
inteira pensando na diferença que eu poderia ter feito, mesmo que custasse a
minha própria vida. Eu deveria estar lá.
E fiquei. Num prédio de não sei quantos andares, eu fui.
Subi preocupada com a descida, talvez não fosse o elevador a me trazer de
volta. Não sabia se estaria sozinha ao retornar, ou se retornaria. Não sabia
quem encontraria, ou se encontraria. Não sabia de nada, mas deveria estar lá.
Quem disse eu já não sei mais, aquilo gritava dentro de mim.
Pela primeira vez em muitos sonhos, eu tive medo. E ali
pensava, onde estava a coragem que sempre me acompanhava. Eu me sentia inútil
como quem cruza os braços e espera a água passar, como quem se dá por vencido e
fecha os olhos pra não ver, como quem só enxerga a sua vida pra viver. Eu me sentia
fraca, tão humana. Quem dera eu tivesse superpoder. Mas eu estava ali.
Eu não sabia pra onde ir e tão atordoada eu só queria
tirar todos daquele lugar. E o tempo até que não foi cruel comigo, me deixou
ficar, me deu tempo de estar, de fazer e de ir. Mesmo com tudo cronometrado,
mesmo com todo o cansaço, tudo parecia em câmera lenta. Eu estava lá, buscando
coragem e folego pra não me ver afogada. Porque sim, eu era personagem e
expectador daquelas cenas. Chorava por dentro e era engolida por fora, até
encontrar o que eu tanto procurava: sorrisos e alívios além dos meus. Acordei.