domingo, 30 de dezembro de 2012

Versos Acordados

O acordo era dormir até mais tarde ou até o sol raiar
Tem horas que nem sei quem sou
Queria ter tempo de sentir depois de dores mais cor
Escrevo apenas sobre as mazelas do amor
Há quem julgue ser doce, leve, uma flor
Outros afirmam ser comum e um tanto infantil
Confesso, não estou aqui para agradar a mil
Mas faço sempre o uso desse mesmo fio
Para acompanhar a solidão que um dia se fez silêncio.
Acordei cedo e, sobre o (des)acordo, agora penso:
Minhas noites nunca precisaram de tanto lenço
Noites de lua cheia com brilho intenso
Ofuscam meus olhos que insistem em penar.
Sou diferente dessa gente que finge ser o que não sente
Mas me assemelho logo ali na frente
Quando saio dos meus sonhos e desaprendo a voar.
Na madrugada agora entendo, não somos donos do querer
Queria ser um bem-te-vi que canta dando vida lá no alto
Grito que dá asas ao coração e ameniza o que é triste fato.
Mas meu único alívio, agora, é o sono se aproximando
Daqui a poucas horas vou levantando
Lembrando-me dos versos acordados
Que me dão ar e escrevo de vez em quando.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Tic-tac

Enquanto uma folha se recusa a cair
A serpente do medo cresce, rodeia...
E a criança quer apenas sorrir e brincar...
Mal sabe ela que o tic-tac não pode parar.
Fechando os olhos pode-se sentir
Horas correm, horas engatinham...
Nada mais que sonho, mera impressão.
Mesmo não dando corda, relógio quebrado...
O tempo e seus caprichos não silenciam
Às vezes gritam, ensurdecem a alma
Às vezes cantam no mesmo tom.
Não se pode correr contra o tempo
O fácil também pode ser perigoso
Mas aquela criança ainda pode sorrir
Todo dia é dia de espetáculo
Há sempre um sol brilhando em algum lugar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Nada Não


“Nada não” é tudo o que eu posso dizer diante do que sinto, diante do que faço e diante do que eu não sei... Não sei explicar. Meus sentimentos se misturam e confundem minha cabeça, meus pensamentos se encaracolam bem mais que os meus próprios cachos.
De repente sinto o coração bater forte, um arrepio que vai da ponta do dedo ao ultimo fio de cabelo. Olhar pra cima já não me faz tão bem, a angustia invade meu peito. Não tenho mais aquela companhia que me ensinou a contemplar o céu, está tão longe quanto as estrelas e eu tão solitária quanto a lua, mesmo cercada de pessoas.
Alguém bem próximo a mim diz também sentir falta, mas não como eu porque eu nada tenho a dizer, nada consigo fazer. Mas, uma coisa é certa, EU SINTO. Ninguém me entende, ninguém entende meu silêncio. “Nada não” é o máximo que eu posso dizer agora, enquanto procuro papel e lápis para eu mesma conseguir me entender.
A verdade é que mulher é um bicho esquisito e querendo ser menina me atrevo a ser mais ainda, ser aquilo que nem sei que sou. Choro, grito, brigo, esperneio, faço isso durante o ano inteiro, entre 3 e 6 dias no mês e ainda tenho que aguentar a dor, sentimentos a flor da pele... Nessas horas me revolto e preferia de verdade era fazer xixi em pé, caminhar pela cidade, respirar fundo até mais tarde sem me preocupar com o que vou sentir no mês seguinte.
Mas logo paro e penso melhor, é essa tal sensibilidade que nos torna diferente, que me faz ver o mundo com um olhar mais doce. Sensível e sonhadora sou, mas agora alguém torna a perguntar: “o que está se passando nesse teu mundinho?”, reconhecendo minha confusão com as palavras e sabendo que são raros os que me compreendem, respondo apenas “nada não”.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Meus olhos sentem

Ao longe era bonito
Ver todas aquelas asas,
Três pares voando
Agora bem perto de mim.
Do lado oposto aqueles sóis,
Eclipse que não tinha lua.
Luz intensa ofuscou meus olhos
E na tentativa de fuga
Fechando-os, acordei.
Meus olhos pareciam não estar comigo
Estavam lá, clareando o céu.
Agora são luas escondidas entre nuvens
Quando parecem não se mostrar
Surgem enormes querendo sorrir,
Avistando a visita da chuva....
Não adianta fechar e abrir os olhos,
Não é sonho, não adianta tentar acordar,
Aquela sensação agora vem de dentro
Estranho, antes que a chuva caia
E qualquer palavra seja dita
O nada e o medo começam a chorar.

Dez

Olho minhas mãos,
Cada dedo uma história pra contar
Antes deles, vejo o colorido
Que em meu pulso faz circular...
Lembro-me das primeiras prosas
Todo dia
Dia todo
Quase sem parar.
E uma chuva de janeiro
Veio, logo, anunciar
Quanto mais próximos
Maior a vontade de ir além,
Deixar o sol entrar...