terça-feira, 29 de julho de 2014

Eu e o Café

Sentados frente a frente
Numa mesa, quatro cadeiras...
Conversas sobre o lar
Ou o que um dia eu fui

Eis que ouço passos pela casa,
Não havia mais ninguém
Além de nós.

Eram bem familiares
Arrastador, compassados
Um, dois, três.

Abri os olhos cuidadosamente,
Não vi nada,
Fechei.

Levantei os ouvidos atentamente,
Lembrei-me de alguém,
Escutei.

Um olho fechado,
Um ouvido atento,
Uma cadeira sai do lugar.

- Sente-se.
Aceita a companhia do meu café?

Ele sentava
Eu sentia
Nós sorríamos

Aqui dentro chovia
Lá fora, eu e o café.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Acordando

Cansados de verem acontecer,
Não serem participantes,
Não terem sequer voz ou vez
Levantaram-se de suas acolchoadas poltronas,
Vestiram-se da roupa mais básica,
Prenderam os longos cabelos,
Alimentaram as suadas mãos,
Seguiram incontestavelmente,
Lançaram voz e o que tinham pela frente
Em nome do pai, do filho e do espirito.
Enquanto isso, eu grito:
- Salvem a arquitetura!
Me olham torto,
Me dizem: - Pare!
Ateiam fogo.
- Bendito seja o que não é morto,
Junte-se a nós...
- Eu não sei,
Eu vejo um velho,
Ele me pede a memória...
- Emprestada?
(Silêncio...)

Em tom de oração

O que de fato desejas com esse sentir?
Não, não quero ser o que me submetes agora.

Sou dura na queda,
Sei bem fingir-me de pedra
Mas não sou, sou feita de pó
Que se mistura a água até se (des)encontrar,
Que escorre entre os dedos sempre que ousam prender.

Sou feita de tanta cor
Que me confundo quando preciso decidir a mais vibrante...
Um misto de quente e frio
Claro e escuro...
Socorro!
Quero voltar a ser café com leite,
Quero sentir...
Mas o sabor do vento
Não a falta de doçura ou afeto.

Se queres que eu sinta, me ensinas a ser
Talvez seja muito,
Me atrevo a pedir.